Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado . Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro. Mas cada um via uma coisa diferente, e cada um portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade." (Fernando Pessoa).
A verdade, esta pode ser dupla. Ela não é única, não é absoluta. Ela depende da percepção, da escuta, da forma, da expectativa, da fala, dos gestos, do que está implícito em todo o contexto da relação.
Chegam ao meu consultório inúmeros casais que lutam pelas suas verdades, e se esquecem dessa dupla existência da mesma verdade. Num confronto de idéias, as mágoas podem embotar a capacidade empática de cada um. A capacidade de tentar se colocar no lugar do outro, de usar suas lentes. E o que fica em voga é: Quem está certo? Quem fala a verdade.
Ambos estão errados em duvidar da visão do outro. Em não conseguir escutar o coração desse outro e suas reais motivações. Ambos estão certos pelas suas próprias visões, que envolvem suas percepções, suas sensibilidades, suas histórias, suas necessidades e caminhos.
O primeiro passo para se descobrir a verdade de uma relação é cada um olhar para si de uma forma extremamente sincera e buscar o que lhe cabe nesse processo. Esta é também a parte mais difícil.
O resto virá a seguir.
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