AS BORBOLETAS...

Convido você a pensar sobre questões fundamentais para o ser humano. A maioria de nós está em constante busca de viver bem, de usufruir da vida e de nos desvencilhar da solidão.

Nossa história nos formou. Somos quem somos devido aos sistemas dos quais fazemos parte.

Ao mesmo tempo que ansiamos por um amor verdadeiro, que nos traga segurança, proximidade e cuidado; também desejamos viver paixões que nos revigorem, que acordem nosso desejo, que faça nossos corpos suspirarem.

O erotismo também é uma parte essencial de nós. É a propulsão de vida, o exalar da essência humana, a descoberta de si mesmo. Ele requer distanciamento, mistério, busca o inusitado, a espontaneidade, o perigo, o inseguro...Busca o encontro e o desencontro, ao mesmo tempo.

Falariam o amor e o erotismo duas línguas distantes? Em que etapas do caminho eles podem se cruzar? Pode uma relação estável manter acesa a chama do desejo após muito tempo? Conversaremos sobre estes e outros temas...




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM- AS REAÇÕES DE DEFESA E O ATAQUE AO OUTRO


Algumas pessoas me pediram para falar um pouco mais sobre as reações de defesa inconscientes (que discorri no post anterior) e como podemos estar atacando o outro nesse processo.
Quando escrevo, falo sobre mim, minhas percepções, das conversas que tive, olhares, sorrisos e colocações até que não me dizem respeito, mas que captei nos meus dias. E se elas se fizeram notar por mim, no consultório, nos filmes, artigos, conversas, palestras ou onde quer seja; significa que estão também em mim, em algum lugar.
As inquietações apontam para o que, internamente pensamos, para nossos medos, desejos, expectativas, frustrações, e tantos outros conteúdos que aparecem, pois estão dentro de nós; e tudo isso é parte fundamental do desenvolvimento e crescimento na caminhada. Precisamos passar por cada etapa.
Pense comigo: Nossos filtros internos interferem na forma como enxergamos a realidade. Podem criar uma realidade mais ou menos assustadora. Exageram, distorcem, minimizam, entristecem.
Que filtros seriam esses? São ações de defesa que atuam para nos privar do medo. Todos temos medo. Ele é uma sensação natural. Esse é um sentimento vital, que atua em toda natureza desempenhando um papel importante e natural de preservação, proteção, sobrevivência.
Faz parte de nós. Não é feio ou errado sentir e assumir que sentimos. A maioria de nós não percebe que o medo em si diz respeito a nossa mente. Ele não é concreto, não é algo palpável.
O medo é traduzido nas reações que a mente produz diante de estímulos diversos, que diferem de uma pessoa para outra. Seria um sentimento de insegurança interno, que atribuímos a uma pessoa, um objeto, uma situação real ou imaginária ou mesmo uma antecipação dela. Mas está dentro de nós.
Medo de ser abandonado, medo do fracasso, medo do novo, medo da solidão, medo da rejeição, medo da dor, de ser magoado; medo do desconhecido.
De acordo com a nossa história, o que vivemos, a percepção da vida, os episódios marcantes, as lutas, desafios, e tudo o que tivemos que enfrentar; desenvolvemos ações de defesa, filtros, que de alguma forma seria uma maneira de obter segurança, pelos medos que são abrigados dentro de cada um. Esses filtros colorem as próprias lentes perceptivas e essas interferem em como enxergamos as realidades, os acontecimentos.
Os acontecimentos de hoje são importantes, é preciso estar no presente. E por isso é necessário se dar conta e se perguntar se as reações realmente condizem com os fatos acontecidos no momento, ou estão desproporcionais, por estarmos colorindo, exagerando pelas defesas, travas e medos por tudo o que vivemos no passado recente ou remoto.
Por esses filtros podemos colorir uma realidade mais para vermelho, laranja, onde tudo é cheio de vibração. Ou mesmo tomar a proporção “blue”, sentimentos de apatia e falta de energia, Ou a tornar acinzentada, onde perceberemos o que acontece com um determinado grau de tristeza, apreensão, distanciamento nos deixando até meio perdidos; outras vezes as cores passam a ser pretas, e os acontecimentos tomam um peso enorme e nos afetam, nos ferem. Mas repito, são distorções só nossas. E no exato momento, podemos não nos dar conta do que está acontecendo. Apenas sentimos que é pesado demais.
Quando isso acontece, na maioria das vezes tentamos transferir para o outro a responsabilidade das nossas reações: “Agi assim por que você fez isto ou aquilo”, “Ninguém me entende”, “Minha mulher não compreende meu momento”, “Meu marido só pensa nele”, “Se eu tivesse isso ou aquilo seria diferente”, e tantos outros movimentos para fora. E por todas as emoções envolvidas, não nos damos conta do quanto superdimensionamos o que nos aconteceu.
Não é uma questão de buscar quem cometeu a falha. O que quero pontuar é que em determinadas situações reagimos e nem nos damos conta disso. É mais fácil olhar o outro, interpretar suas atitudes, analisar o externo. Pelas distorções e apreensões que nos pressionam internamente, e todos os medos envolvidos, e o incômodo que invade, tentamos esvaziá-las, e na maioria das vezes atingimos quem está mais perto.
É um processo inconsciente de aliviar o peso e a pressão, e assim, repetidas vezes tentamos passar adiante, tirar de nós o foco. Segundo Freud, o pai da psicanálise, pulsões internas, que consideramos inaceitáveis ainda buscam se expressar, mesmo quando já trabalhamos com elas, mesmo que as conheçamos. Vez por outra elas teimam em retornar. Quando acontece, temos a tendência de nos proteger, elas são inaceitáves. Por isso o ataque. A proteção é natural. Faz parte do nosso instinto de sobrevivência, inclusive emocional. É uma forma de evitar a dor e a frustração. Por isso é preciso conversar com nosso coração várias e várias vezes, de tempos em tempos. Quando o incômodo bater, as perguntas a nós mesmos são fundamentais.
Até ler um texto como este pode, ao invés de nos fazer olhar para dentro, reforçar a mesma posição de buscar fora de nós as respostas:
“Puxa, foi assim que meu marido reagiu, ele está colocando em mim a responsabilidade, ele sempre faz isso”; ou “Fulana precisa ler isto, ela vive fazendo isso comigo”. Nesse momento eu não gostaria que você pensasse em alguém que faz isso com você, que age assim, no seu marido, esposa, filho, amigo, chefe. Gostaria que apenas e tão somente voltasse para si mesmo, e refletisse comigo:
“Quando EU ajo dessa forma?”. “Em que momentos, ou que acontecimentos eu posso ter percebido com lentes mais escuras, mais vibrantes do que realmente se mostravam, e por isso eu reagi com tanta força. Isso move que sentimentos dentro de mim?”.
“Por que estou tão incomodado? O que me leva a sentir o que aconteceu de uma forma tão pessoal?”, “Por que esse assunto me mobilizou tanto, que sentimentos eles fazem ecoar dentro de mim?”, “Por que estou levando essa determinada pessoa que me “atacou” dentro de mim, por que eu me dexei irritar dessa forma?”, “O que me tira a leveza quando penso nesse assunto específico?”, “O que realmente me desestabiliza quando isso me acontece?”, “Que sentimentos e emoções me afloram quando me deparo com situações como estas, ou com esse tipo de fala?”, “Por que coloco peso em coisas que aparentemente são tão simples?”, “O que realmente estou protegendo, que medos eu tenho?”.
Essas e outras perguntas são essenciais para o auto-conhecimento contínuo. Não é porque já nos conhecermos, que estamos imunes à auto-proteção, até mesmo exagerada. Não estamos e nunca estaremos. O que vai acontecer é que com a conscientização, reconhecimento de quem realmente somos e maturidade conseguiremos agir menos reativamente, diminuindo as chances de sermos esmagados e paralisarmos. E além disso, podemos ter relacionamentos onde antes de apontar as falhas do outro, nos daremos conta do que acontece dentro de nós. E assim seremos mais harmônicos.
Às vezes fico feliz com o que encontro dentro de mim, outras vezes me deparo com o que não gosto muito. Mas esse emaranhado sou eu. Não é feio sentir o que sinto. Não é errado ter sentimentos “negativos e não felizes”.
Se aceito quem sou, aceito minhas fortalezas e fragilidades, e inclusive acolho todos os sentimentos que me veem. Inclusive os que me entristecem. Não acolhe-los só me leva a fortelece-los, a coloca-los sob foco e assim, eles passam a dirigir a forma como me sinto e como reajo na maioria das vezes. Por isso, eu os deixo vir e ir. Pois é assim que são, voláteis.
Todos nós temos luzes e sombras. E vamos continuar a ter. Isso significa que temos sentimentos e reações que não gostaríamos de ter, mas os temos. Aceite-os. Não tem como transformar as reações sem saber a que sentimentos elas estão ligadas, o que as move. Descobrir e admitir sentimentos e reações negativas, libera esses sentimentos, e facilita a sua mudança.
Não precisa sair por ai falando dos seus medos e sentimentos para qualquer pessoa. Se precisar procure a ajuda de um profissional, ou escolha alguém que considera confiável e maduro para lhe ouvir. Porém o mais importante é que os encare. Assuma para você mesmo que os tem, sem julgamento. Dê nome ao que sente: Medo, raiva, insegurança, sentimento de rejeição, alegria, nojo, tristeza, ansiedade. Vá mais fundo. Investigue dentro de si quais dessas emoções estão lhe movendo. Medo de que? Ansiedade por qual motivo? Insegurança de perder o que? Raiva de quem? De você mesmo? Você se aceita? Sente culpa? Não saber também é uma resposta. Seja verdadeiro. E saiba, esses sentimentos fazem parte de você HOJE. Amanhã eles poderão não mais estar ai. Eles não o determinam e não o rotulam como pessoa, como ser. Eles vem e vão. Deixe-os aparecer e ir. Eles fazem parte da sua caminhada e o ajudam a lidar com as tempestades da vida. Acredite.
Assuma quem você é, com as luzes e também as sombras. Não use máscaras para agradar a quem quer que seja. O mascarar internamente funciona como uma bomba relógio, que vai potencializar todos esses sentimentos que considera negativos. Também não tente provar para o outro o que está enxergando, nem a mudança que está acontecendo dentro de você. Apenas se permita viver esse momento e aja de acordo com todo esse movimento interno de aceitação e de transformação.
Para mudar é preciso agir diferente. Comece devagar. Tente enxergar de forma mais clara possível o que se passa dentro de você. Não tenha temor de que assumindo e acolhendo esses sentimentos de sombra ele irão perseverar. Pelo contrário. Só existe esse caminho para que aconteçam mudanças. É parando de julgar o que sente, parando de fazer de conta que eles não estão dentro de você. É assumindo que eles também fazem parte de você. Assim eles perdem a força. E você poderá viver com mais leveza e paz. Sem lutar com o que existe dentro de você.
jacpsicologa@gmail.com

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM: OS MEDOS E REAÇÕES DE DEFESA


Hoje não consegui ver a super lua, nem o eclipse na minha cidade. As nuvens e a chuva impediram a visão.
Todavia, mesmo que eu não possa ver, sei que acima dessas nuvens a super lua está lá, e o eclipse está acontecendo. Não importa se eu veja ou não.
Muitas vezes os temporais da caminhada da vida podem está impedindo que você veja o que realmente está acontecendo. Pode até parecer que não há uma lua enorme, vermelha, brilhante e linda nesse momento; e que só o que você consiga ver são as nuvens carregadas. Porém, independente do que enxerga nesse momento, faça um exercício de ultrapassar essas nuvens e se conectar com seu coração. Ele está acima de todo esse céu cinza. O que o faz não acreditar que há uma lua enorme por detrás das nuvens? E todos esses sentimentos que afloram por não poder ver nesse momento?
Com calma respire, perceba o que sente, não fuja dos sentimentos e pensamentos. Deixe-os vir e ir.
Há dor, angustia e medo? Não lute contra esses sentimentos. Assuma-os.
De que tem medo? Responda tendo como foco você, não o outro.
A angustia que lhe aperta o coração lhe aponta para sentimentos só seus.
Ninguém fora de você tem poder para lhe causar qualquer tipo de dor, a não ser que você permita.
Não foi seu marido, sua esposa, seu parceiro, seus pais, seus amigos que lhe trouxeram tristeza.
Foram seus medos de rejeição, de não ser escolhido, sua necessidade de ser aceito, de ser admirado, sua carência, o temor de ficar sozinho no mundo, o desejo de ser cuidado, a sua baixa estima e necessidade de alguém provar que você é especial, a sua falta de fé em si mesmo, a sua auto-cobrança, sua busca de perfeição e tantas outras coisas só suas, impregnados em você pela sua história, e que de alguma forma, “justificam" seus atos, posturas e reações.
Não foi ninguém que lhe machucou. Você tem marcas internas, e independente de quem cruzar o seu caminho, você vai ter as mesmas sensações, reações, projeções e proteções. Pois a dor está dentro de você., não importa para onde vá ou com quem esteja, você a carregará consigo. Por isso cuide dela.
Como fazer isso?
- Fique no momento presente. Pare de resistir à experiência de ficar com essa dor e aproveite-a como oportunidade de um encontro consigo mesmo.
- Reconheça a si e o que o move, o que o ira, o que o angustia, o que o amedronta.
- Pare de procurar falhas nos outros.
- Pergunte o que há dentro de você para que esteja sentindo e reagindo dessa ou daquela forma, para que esteja tão irritado, tão intimidado. O que há dentro de si que o faz ficar tão mobilizado por falas e atitudes do outro?
- Não somos vítimas dos nossos relacionamentos, somos participantes deles.
- Pare de, por medo de ser abandonado, reagir de maneira a afastar as pessoas de você.
Lembre sempre que aquilo que percebemos nos outros e no mundo exterior é uma projeção dos nossos pensamentos.
Escolha curar seu relacionamento consigo mesmo e não mais julgue a si.
Assuma todos os dias a responsabilidade por sua vida e escolhas. O maior inimigo está dentro de cada um de nós.
Seja livre para aceitar quem você é. Não tente mudar o que passou, isso não é possível e aprisiona. Perdoe a si mesmo. Perdoe a criança ferida dentro de si. Não se cobre pelos erros cometidos. Não se culpe pelo que escolheu, pelos caminhos trilhados. eles foram as únicas escolhas possíveis para aquele momento, para a pessoa que você era. Liberte-se da culpa do passado. Ele já foi, e tudo o que passou faz parte do seu processo de crescimento, de amadurecimento, de transformação. Aceite e confie. Se não consegue sozinho busque ajuda.
E sem tantos pesos, continue sonhando, sabendo contudo escolher os seus caminhos conectado com o que você é hoje. Mas não se cristalize. Amanhã a escolha poderá ser diferente. Mas isso você só poderá saber quando esse amanhã chegar.
A vida é cheia de desafios, que os encaremos. Não dá pra fugir deles.
jacpsicologa@gmail.com

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM - ANTES DE SEREM DOIS, É PRECISO MERGULHAR EM SÍ.


A palavra relacionamento tem diversos significados. Se olharmos sua derivação do latim, que significa levar consigo de uma forma intensa; relacionar-se não seria sinônimo de estar ou reagir em relação ao outro primeiramente, ou o que se imagina estar fora de nós. Seria mais um movimento de intimidade a partir de nós, e em seguida em direção a uma conexão com esse outro. E não se trata somente de conectar, mas manter o envolvimento a ponto de compartilhar experiências.
Existe algo mágico e muito poderoso em nosso corpo e mente, seja aqui ou no Japão: a importância do ser humano em formar pares. Muito já se questionou sobre o assunto, mas com certeza há um forte desejo na maioria dos homens e mulheres de ter um relacionamento afetivo.
A necessidade de se relacionar repousa na própria base da existência humana e na sua interdependência. Somos seres sociais e precisamos viver em contato com o outro. Assim também acontece em várias outras formas de vida na natureza: a dependência de partilhar, apoiar, interagir, dividir, suprir. A necessidade de amor, de relações afetivas está na base da própria fundação da existência. E é através do contato com o outro que crescemos, mudamos, contamos e recontamos histórias, nos transformamos dia a dia. E essa transformação é complexa, aperta, dói, incomoda. Porém, faz a vida mais real, mais plena, mais possível.
A inter-relação já se iniciou no ventre da mãe. O feto só sobrevive através desse outro ser. Posteriormente, passamos a ter contato com o pai, irmãos, parentes, amigos, escola, sociedade e assim por diante. Novos ciclos se reiniciam durante toda a vida. A cada novo casal que se forma, a cada família que se constrói , ciclos e mais ciclos relacionais se perpetuam, tanto os perenes como os que começam a partir do final de um anterior.
Encontrar um par amoroso é o desejo de grande parte dos homens e mulheres desde muito tempo atrás. Quando toco neste ponto uma frase me vem à cabeça, dizem que ela foi proferida a muitos séculos atrás por um governante da antiga Roma:
“NÃO EXISTE NADA MAIS PRAZEROSO NESTA VIDA, DO QUE TER ALGUÉM PRA CONVERSAR COMO SE CONVERSÁSSEMOS COM NOSSO TRAVESSEIRO.”
Muitos motivos estão envolvidos na raiz dessa busca: A sensação de aconchego, confiança, cumplicidade e esperança entre diversos outros. O que mais me toca é a intimidade, pois dentro dela encontram-se muitas outras sensações que produzem conforto e alegria.
Antes de estabelecermos relações e interdependências harmoniosas precisamos adentrar a um ponto extremamente importante e profundo: o AUTOCONHECIMENTO.
É o pensar sobre si, suas faltas, ansiedade, inseguranças, o que o move, o que o entristece, e tantas outras dores; para que seja possível estar em uma relação, sem contudo projetar no outro as suas necessidades intrínsecas. Costumamos apontar no outro as falhas, por frustrarem uma expectativa que é nossa, foi gerada dentro de nós ao longo das histórias vividas, e são nossos vazios.
Que nos encaremos, nos percebamos sem defesas, e assim, procuremos a paz dentro de nós. Assim, seremos capazes de nos relacionar com clareza, percebendo as partes que cabem a cada um. E se porventura, em algum momento isso não acontecer, tenha a atitude de parar, assumir, de refletir e perceber mais uma vez o que te move. Essa é a chave de viver bem.
Mas como fazer isso? Talvez seja a mais complicada das respostas adentrar nesta seara, pois envolve processos pessoais profundos nada fáceis como introspecção, reflexão, encarar os medos, assumir responsabilidades., reconhecimento de quem realmente somos, de uma escuta de si mesmo, percebendo e ouvindo seu corpo, suas sensações, sua presença, sem preconceitos, sem adjetivos, sem dogmas, sem julgamentos.
Conhecer a si mesmo é fundamental para conquistar um relacionamento afetivo com harmonia e crescimento mútuo. O que pode nos fazer alcançar bons relacionamentos cheios de afeto e parceria, dependerá do tipo de relacionamento que temos conosco.
Por isso, a busca em direção a nós mesmos, antecede o caminhar a dois e é ponto de partida para construir um relacionamento criativo e que envolva um crescimento saudável. Sem esquecer, é claro, que com a devida disposição, perceberemos a tremenda aventura de se conhecer de verdade!
Como você tem se relacionado consigo mesmo? Você se sente tranquilo em conversar consigo? Suas questões íntimas estão sendo trazidas à luz da consciência sem punições e julgamentos? Você se permite escutar as vozes que estão enjauladas pelos anos de aprendizado e paradigmas da nossa sociedade?
O processo de descoberta de si, através de vários questionamentos pode causar agitação e desconforto. E ele aparece principalmente quando a vida mostra o que não conseguimos ver ou aceitar em nós. O confronto da vida tem apenas um objetivo: nos fazer amadurecer e nos tornar mais capazes de aceitar a vida do jeito que ela realmente é.
Várias outras questões precisam ser repensadas e respondidas de forma sincera:
- Você sabe dizer com certa clareza como você tem atendido sua próprias demandas?
- Como você tem feito suas escolhas pessoais?
- Você tem segurança para fazer novas escolhas e dizer NÃO para algo ou alguém em sua vida?
- Você consegue viver o dia de hoje ou ainda deixa os devaneios do passado e do futuro dirigir sua decisões?
- Quais são seus projetos? Eles são criados por você ou você anda comprando projetos floreados e perfumado dos outros?
- O que o motiva a permanecer num relacionamento amoroso? Será que está esperando que o outro supra algum vazio que é seu? Quais seriam eles?
Buscar as respostas em si faz parte dessa aventura de adentrar no profundo do nosso ser, nesse processo gradativo e verdadeiro de se desnudar , de reconhecer a nossa essência, e nossas reais motivações e reações. Essa viagem para dentro de si irá modificar as suas relações, mas principalmente, fará de você alguém mais confiante e pleno. E isso não depende de quem está ao seu lado.
O importante é não olhar para as respostas com um martelinho de madeira igual ao usado pelos juízes nos tribunais. Você não tem como vencer a você mesmo. Não é possível condenar a si próprio. Você está aqui para aprender, crescer e usar cada uma das suas experiências como roteiro de viagem, pois sua caminhada começou a algum tempo e nela você caminhou até aqui. Você é o que é no dia de hoje, e foi criado e formatado de diversas maneira. Mas com certeza no dia de hoje você deve assumir a responsabilidade pela suas escolhas, e lembrar que você foi coparticipante em muitas delas, e continua escrevendo sua história.
VOCÊ É O RESULTADO DAS ESCOLHAS QUE FEZ ONTEM E SERÁ AMANHÃ O RESULTADO DAS ESCOLHAS QUE FIZER HOJE.
É importante questionar sobre tudo que lhe motiva, pois só você pode sabe-lo. Independente do momento, é preciso encontrar um tempo para ser seu melhor amigo e companheiro, pois quando esse hábito se torna parte de você, suas escolhas sempre serão está em relacionamentos que envolvam o mesmo companheirismo e afeto que sente por si mesmo. A partir daí todas as questões que ainda irão aparecer, serão resolvidas com comprometimento e amor. Esse é um grande segredo dos relacionamentos de casais que fazem bem a ambos.
A boa nova é que é possível. O presente da vida vem quando estarmos dispostos a aprender a cada dia.
Jackie Kauffman & AM
jacpsicologa@gmail.com
Liberdade de ser transformado de dentro pra fora!

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM: SOLUÇÕES DIANTE DO MEDO E DA INSEGURANÇA


A vida nos surpreende. A qualquer hora temos diante de nós situações que não esperávamos, com riscos não pensados, com confrontos inevitáveis, e escolhas inadiáveis.
Quando precisamos tomar decisões importantes, geralmente o medo e a ansiedade nos acompanham. Eles surgem, ora sutilmente, ora de forma avassaladora.
Por mais que sejamos pessoas autoconfiantes, independentes, fortes e corajosas em várias áreas da vida, isso não quer dizer que parte de nós não sinta temor, insegurança, medo diante das escolhas, do novo e dos papéis que desempenhamos na vida. Essa parte precisa ser aceita e encarada. Nada adianta fazer de conta que ela não existe e parecer mais seguro do que realmente se é. Aparentar ou fugir do real sentimento não faz bem, nem minimiza o problema. Pelo contrário, faz com que fujamos de quem realmente somos, e assim nos distanciamos das respostas que estão dentro do nosso próprio coração.
O medo escondido e não encarado como uma parte da vida, tira a liberdade de escolha. Não é possível escolher entre dois caminhos de forma realista se nem ao menos somos capazes de aceitar nossas próprias inseguranças.
Ter insegurança não é sinal de fraqueza. Fraqueza maior é querer ser e parecer o que não se é de verdade, e não aceitar todas essas facetas, inclusive as partes frágeis.
Eu também estou me confrontando e desafiando dia a dia. Não consigo sempre.
Não queira ser um super-homem ou uma super-mulher. Pois isto sim, o tornaria um eterno frustrado. Não deixe que suas emoções exagerem e absolutizem quem você é. Ter medos e inseguranças não o torna uma pessoa “medrosa, covarde e sem estrutura”. Realmente não somos e nem precisamos ser o tempo todo decididos e fortes. Não precisamos ter todas as respostas e caminhar como se não tivéssemos momentos de hesitação. Temos nossas ansiedades, frustrações, covardias e medos. E isso não tira de nós o brilho e a coragem em diversos outros âmbitos da vida. Somos uma mescla de coragem e medo, Segurança e insegurança. É o que somos. Aceite isso e aprenda a conviver com sentimentos antagônicos, sem os rejeitar.
Assumir e aceitar tudo o que somos e sentimos é fazer as pazes conosco mesmos.
E se o medo é também parte de nós, o importante a pensar é como impedi-lo de nos tirar a clareza, a visão de quem somos e das circunstâncias.
Qual a solução diante do medo? Nos entregar ao choro, entrar no quarto escuro e ficar embaixo da cama imóveis, pois ele aprisiona e impede os próximos passos? O medo existe, faz parte de nós, mas não podemos dar a ele o poder de nos aprisionar. Assim como o medo, também existe a coragem. Assim como as indecisões se mostram assustadoras, também temos as certezas e a força que precisamos para nos levantar e escolher os caminhos que se apresentam.
O que fazer diante de todo esse emaranhado de sensações e emoções?
- Aceitar que sente medo. Parar de fingir para si mesmo e encarar as suas fragilidades de frente, sem se justificar, sem “mas e porquês”.
- Perceber que os caminhos estão postos e escolhas precisam ser feitas. Não procrastinar, não deixar para amanhã. Não é fácil, mas é possível. Faz parte de um processo de reconstrução de dentro para fora. É um passo depois do outro.
- Achar em si a parte que não sente medo, a parte coerente e serena que também existe dentro de cada um.
- Tentar enxergar claramente, separando os sentimentos e medos do passado e os do presente. Eles se embaralham, e por isso é preciso parar e refletir. Perguntar se o que sente no momento não pode ser fruto das situações passadas ainda vivas que o prende como aconteceu a tempos atrás. Reconsiderar se os receios que sente hoje não dizem respeito às antigas feridas, fracassos e situações que o marcaram.
- Verificar os riscos reais, as possibilidades, os caminhos e suas consequências, os aspectos positivos e negativos, tentando distanciar da escuridão do medo. Há riscos e isso não pode ser ignorado. O que não pode acontecer é acrescentar a esses pesos de outrora.
Pense comigo:
- Ontem você sofreu e não conseguiu. Mas hoje você é outra pessoa, até pelo que viveu, errou e acertou. Tem todas as possibilidades de enfrentar o que está posto, de fazer outras escolhas. Hoje é um novo dia. E se há algo que pode ser mudado é agora.
- A imprevisibilidade existe. As coisas podem dar “certo, como também podem dar “errado”. É preciso enfrenta-las como partes de um processo de maturidade e de crescimento pessoal e se desafiar, inclusive pela incerteza.
- Portanto, deseje crescer, procure a motivação dentro de você, acredite que há forças dentro do seu coração, pratique, dê passos e seja perseverante.
- E finalmente não desista. Ainda há muita coisa boa a ser descoberta. Ainda há muitas flores a desabrochar, ainda há muitos caminhos a serem trilhados, muito aprendizado e muita vida a viver.
Busque a liberdade para encarar seus medos, enfrente-os e escolha seus caminhos. Seu coração irá guiá-lo. Escute-o.

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM - CAMINHADA A DOIS:DIANTE DOS CONFLITOS– PARTE II


Antes de ser casal, cada um é um individuo que precisa saber quem é, o que quer , o que é importante e essencial para sua vida. É preciso primeiramente se descobrir. Só assim é possível doar amor a outra pessoa e ser parte de uma relação harmônica.
O relacionamento dá certo quando se olha para o hoje sem está preso ao passado. Quando as respostas são procuradas dentro de si mesmo. E quando se tem o grande desejo de acertar e de viver bem, tentando a cada dia ser mais leve, mais empático, e se desprender do que não é essencial para uma vida boa.
Muitos são os questionamentos e dúvidas à respeito de como passar pelas crises de uma maneira menos sofrida e que surtam efeitos positivos entre um casal.
O conflito entre pessoas íntimas não é apenas saudável, mas é construtivo, principalmente entre um casal que se propõe a unir vidas. Porém é preciso cuidar de como eles acontecem, dentro do respeito, do auto-controle, da confiança, flexibilidade, paciência (que exige treino) e segurança de quem se tem do lado. E acima de tudo, requer coragem e mentes dispostas e abertas à mudanças.
A crise no relacionamento trás questionamentos. É preciso rever as expectativas pessoais, analisar os pontos conflitivos e negociar novos acordos, que não serão imutáveis. Podem sim ser revistos a qualquer tempo.
Muitos dos modelos que cada um carrega podem não funcionar se resolverem caminhar a dois. É preciso reestrutura-los, adapta-los, construir novos. O que não é fácil. Porém, quando o sentimento, a admiração e algo também inexplicável une duas pessoas diferentes, que estão dispostas a olhar o outro ao invés de somente a si, ao meu ver, faz a vida ficar mais bonita e menos solitária.
São novos aprendizados, novas formas de olhar, de perceber, de aceitar, de recuar, de progredir, de falar e sendo assim, buscar outras maneiras de percorrer com mais harmonia o seu ciclo de vida e conseguir estabelecer acordos, resolver os problemas da união e lidar de forma mais tranquila com as diferenças.
Por isso, alguns pontos são importantes:
• É preciso que cada um perceba seu comportamento, reações, inseguranças, impaciências, sensibilidades. Reconhecer tudo isso é um grande desafio. A grande pergunta a ser feita é: Se dependesse só de mim para solucionar a crise de hoje, o que eu faria? Qual é a minha parte que está tornando a crise mais difícil de ser superada? “.
• Não tente reeducar seu parceiro. Ele é outra pessoa. E as diferenças entre o casal fazem da relação algo mais vibrante e admirável. Aceite, dentro de si mesmo, que o outro seja ele, imperfeito, real e que também esteja disposto a aceitar as suas imperfeições. Esse é o fundamento do amor. Dessa maneira, cada um renuncia a algo de si e faz nascer o apreço. O outro se torna um enriquecimento e um acréscimo. E assim, se estabelece uma relação saudável.
• Toda tentativa de converter o parceiro em algo que ele não é, torna-lo mais semelhante a si mesmo, está fadado ao fracasso e destrói o relacionamento. O outro não precisa agir como agiríamos se estivéssemos no seu lugar. É necessário ampliar a ótica para compreender de verdade as diferenças.
• É importante que a comunicação seja clara. Muitas vezes o problema se dá porque achamos que o parceiro está entendendo o que queremos dizer, todavia ele reage por simplesmente ter entendido outra coisa. No calor da emoção não percebemos muita coisa. É preciso um esforço a mais. Preste atenção às reações automáticas de defesa.
• Assim, façam pausas frequentes, para ter um retorno do que está sendo dito e entendido. Use perguntas simples, mas que funcionam: Relate ao seu parceiro o que está entendendo: “Eu estou entendendo que você está me dizendo isso, isso e aquilo. Estou certo?” Ou: “Deixe-me dizer como foi que ouvi suas palavras” Permita que o outro responda. Se ele disser: “Não, nada disso, está entendendo tudo errado.’. Não estique essa conversa, diga apenas: “Pois me fale novamente de uma outra forma para que eu entenda. Eu quero entender.” Pode parecer pouco, mas o esclarecimento do que se diz e o que se ouve é fundamental para que se solucionem crises.
• A forma da comunicação também é importante. Precisamos estar em nós, mas pensar no objetivo do que está sendo dito, que é um entendimento do real impasse. Assim, precisamos cuidar da mensagem, para que o outro a entenda e assim consigam o objetivo final.
• As tensões dos conflitos podem ser minimizadas, porém é preciso encara-las. Impasses conjugais que não são expostos estão ancorados no mito romântico de que pessoas íntimas deveriam aceitar-se sem esperar transformações e novas adaptações, numa relação sem nenhum conflito e assim seriam “felizes para sempre”. Não serão felizes e harmoniosos se o que desagrada não for colocado e discutido entre os dois.
• Todos nós temos idéias em relação àquilo que contribui para uma vida harmoniosa. Sendo humana, uma pessoa gosta que suas idéias prevaleçam. Um parceiro maduro poderá ceder alguns de seus conceitos, porém nunca deve haver uma submissão irrestrita, onde um dos dois se anula e perde sua identidade.
• Um discussão construtiva contribui para uma vida desprovida de jogos manipulatórios. É uma alternativa libertadora, criativa e autentica para companheiros que se enfrentam nas idéias, mas continuam a se amar e se respeitar. O resultado mais compensador de um conflito não é descobrir quem tem razão, mas o fato de um dos dois poder ceder, ou mesmo aceitar as diferenças de pensamentos e posturas.; o que vai transformando a relação.
• A verdadeira intimidade é um estado de entrelaçamento que às vezes se revela exaustivo. É preciso encarar esse fato, e cuidar desse cansaço com seriedade e perceber os limites mútuos. Por isso, quando a discussão não estiver progredindo, os dois estiverem num nível de estresse que o entendimento está sendo inviável. O melhor é respeitar esse limite, parar a conversa/conflito, e continua-la num outro momento. É importante pontuar que a conversa PRECISA ser recomeçada, o que houve foi apenas uma pausa estratégica.
• É preciso afastar o conceito que o outro é quem está errado, que ele/ela precisa de ajuda, não eu. A relação pode está precisando de ajuda, a forma de funcionar é que não está dando certo.
• Mesmo diante de um conflito, ou o que cada um possa ter em mente, o maior presente de um casal é quando um tem um verdadeiro interesse na realização do outro e se ajudam a fazer aflorar o que existe de melhor no outro. Isso aumenta o afeto um pelo outro, além de solidificar a confiança.
• Briguem, mas com lealdade. Saibam com certeza que seu parceiro não é seu inimigo íntimo. Por isso jamais use as fragilidades dele para torna-lo mais vulnerável e vencer a discussão. O objetivo dos impasses é fazê-los crescer e melhorar a relação, não maltratar e destruir o outro. E por serem íntimos, o casal sabe onde são os pontos sensíveis. Não os utilize, a não ser que queira propositadamente destruir a relação. O único modo de vencer será na vitória das duas partes, através de exposição de sentimentos, da forma de encarar e na negociação sensata de como seria melhor para os dois
• Algumas falas, atitudes e comportamentos irritam o parceiro. E se você sabe disso de antemão, Não o faça. Esse tipo de teste não ajuda. Cria barreiras para que o problema seja solucionado.
• O orgulho, a prepotência, a mentira e a ira destroem. Respeitem-se e continuem a se olhar como parceiros, mesmo que no momento não cheguem a um acordo ideal.
• Todos temos resistências, e muitas vezes não conseguimos superá-las de imediato. Pense um pouco nas suas nesse momento. O que se passa dentro de você quando elas são tocadas. Como reage? O que isso atrapalha a discussão com seu parceiro?
• Não guardem ressentimentos e mágoas. O acúmulo provoca tristezas e pode destruir tudo de bonito que ainda podem construir juntos.
• Não valorizem as trivialidades, nem permitam que o externo interfira na vida de vocês de forma a transtornar e tirar o brilho da relação. Respeitem-se nas suas opiniões. Olhem para o outro com um olhar de aceitação. Não tente convencer o outro das suas posições quanto a fatos que nem são tão importantes e não vão fazer diferença na vida dos dois.
• Valorize o que o outro sente, precisa e deseja, mesmo que não seja tão importante para você. Pare de olhar só pra si. Abra mão, algumas vezes, pelo simples fato de querer ver o outro feliz.
• Peça perdão quando sentir que errou. Essa é uma forma milagrosa de crescer e de amadurecer, além de unir o casal e elevar a confiança entre os dois.
A vida a dois é um exercício de olhar a nós e ao outro de outras formas, isso faz com que sejamos transformados dia a dia. Essas transformações são desafiadoras e intrigantes, mas nos retornam com um novo sabor da vida.
Amar e ser amado vale à pena. Não desista quando sentir que o seu relacionamento é muito precioso. Não desista quando o seu coração lhe disser que há amor, parceria e respeito, e um grande e lindo desejo de ser feliz juntos. Não desista só por achar que não é fácil. Depois da árdua subida da montanha há maravilhosas paisagens que só quem se esforçou, tem o privilégio de contemplar.
A busca por um melhor convívio e forma de enfrentamento de conflitos é sempre desafiadora. Todos nós, independente da idade e experiências ainda temos muito o que aprender.
“Andam dizendo por ai que somos um casal perfeito, mal sabem eles que são as nossas imperfeições que nos tornam um casal”.
Ana Beatriz Bittencourt
Jackie Kauffman
jacpsicologa@gmail.com

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM - CAMINHADA A DOIS: IDEALIZAÇÕES, REALIDADE E TRANSFORMAÇÕES - PARTE I


Muito de nós tentamos imaginar um relacionamento conjugal perfeito, sonhado e idealizado dentro de parâmetros imutáveis, onde reine o amor incondicional, confiança absoluta, comunicação sem ruídos, temperança, doação, alegria, entendimento, entrega irrestrita, compreensão infinita; enfim, satisfação absoluta.
Porém, a realidade se mostra diferente. Há processos transformadores que acontecem nos indivíduos que também atuam nos relacionamentos, e mesmo nos melhores, esse processos de caminhada a dois apresenta turbulências e vendavais.
Somos pessoas com histórias diversas, com sistemas de crenças assimilados de maneiras diferentes, dificuldades, valores, potencialidades e fragilidades. E quando toda essa complexidade entra em contato com outro indivíduo, com outros processos , mesmo com disposição de aceitação mútua, não é fácil.
A verdade é que a caminhada a dois é sempre surpreendente. Os processos de interação são desafiadores e incertos, mas o bom disso é que são transformadores. E só não acontecem rusgas, espinhadas, vendavais, quando preferimos nos manter na superficialidade. Mas se preferimos não aprofundar seria porque não valeria à pena? Quando vale, apesar das pedras e as tempestades do caminho, este aprofundar será de muita aprendizagem, mudanças e elos fortes.
Somos indivíduos diferentes e vemos as pessoas e até situações que vivemos da forma como fazem sentido para nós, de acordo com nosso sistema de crenças e não realmente da forma como a realidade se mostra. Na maioria das vezes respondemos a impulsos que tem algum significado para nós. E pensando dessa forma, não vemos as pessoas, os nossos cônjuges, filhos, amigos tal como eles são, mas os percebemos de acordo com o que significam para nós.
Dessa forma, somos dependentes da nossa concepção de mundo, e de como organizamos as experiências baseados em conceitos que se estabeleceram dentro de cada um, de acordo com a história vivida. Assim, formamos os parâmetros de como as pessoas devem se relacionar, de como deve se estabelecer um relacionamento conjugal.
E assim, baseados numa série de significados sobre o que é certo e errado, sobre amor e ódio, sobre alegria e tristeza, sobre peso e leveza, que norteiam nossos sonhos e desejos; interpretamos os comportamentos das pessoas com as quais convivemos. De um outro lado, esses conceitos nos tornam capazes de organizar as muitas experiências que vivemos diariamente, sem eles estaríamos num caos, portanto, são partes importantes e necessárias da nossa personalidade.
Todavia, é preciso não estarmos aprisionados e dependentes do nosso sistema conceitual, para que não nos fechemos para algo que não esteja de acordo com nossa forma de conceber., e principalmente, que não nos privemos de aprender de outras formas, de enxergar sob outras percepções. Essa é a grande beleza da vida!
Quando escolhemos viver ao lado de alguém, aprofundar uma relação a dois,; é preciso entender todos esses processos individuais, que acontecem em ambas as partes. E diante desse entendimento também questionar as próprias idealizações quanto à relacionamentos perfeitos e parâmetros que podem ser inalcançáveis.
Desejar um relacionamento feliz, alegre, leve, em que você tenha o sentimento de segurança, confiança, de liberdade, de carinho, de aconchego; no qual possa buscar uma parceria com alguém , possa partilhar e construir a vida juntos são desejos que podem se realizar. Por que não?
Todavia, para que esse tipo de relação seja alcançada, é necessário deixar bem claro que não existe a historinha de metades que se encontram. Somos inteiros que decidem caminhar juntos por vários motivos e desejos.
- Somos pessoas especiais com histórias únicas que precisam ser respeitadas.
- Somos responsáveis pelas nossas vidas e tudo o que diz respeito à ela: nossos pesos, escolhas, responsabilidades e suas consequências. E muitas vezes não somos tão belos o tempo todo. Somos duais, somos contraditórios e ainda há muito o que aprender na vida.
- Nós não precisamos do outro para sermos completos e saber quem somos de verdade faz da relação à dois um caminho admirável.
Pensando nisso, sugiro alguns passos que podem ajudar na estrada do relacionamento:
1- Alinhe-se com o presente. O Passado foi importante na sua vida e seus conceitos foram alicerçados nele. O que há para ser construído numa relação conjugal saudável depende do que for estabelecido no hoje.
1- Zere as contas entre vocês dois. Não adianta ficar remoendo mágoas e comportamentos passados. Se os débitos não forem zerados, um ou outro vai ficar devedor para sempre. E nessas condições a relação pode não progredir.
2- Olhe para dentro de si e analise onde você está, como você é, como se comporta e como pretende viver. Reflita sobre o tipo de relação que deseja.
3- Tente reconhecer que conceitos, que sistema de crenças o regem. Continue refletindo sobre isso. A forma como enxergamos o outro é regido pelos conceitos internos. Mas será que esses conceitos o tem impedido de ter outras percepções sobre como se relacionar?
4- Identifique o que precisa e pode ser transformado dentro de você. Perceba o que o impede de olhar a realidade como é. Não deixe que nenhuma barreira interna lhe prive de se desnudar.
5- Olhe para as suas fragilidades. Nomine-as, para que não mais precise se forçar para supri-las de alguma forma. Perceba-as para que você possa fortalecer as áreas que necessitam.
6- Busque amparos, busque ferramentas para que você possa mudar o que precisa na sua vida.
7- Assuma as rédeas da sua vida, assuma que as idealizações sobre a relação que está vivendo são suas, e a partir de si tente olhar a realidade e descobrir quais os próximos passos.
8- Se você precisa de mudança, mude a partir de si e porque sente necessidade. Não espere o outro mudar, nem condicione a sua mudança a de seu parceiro.
9- Tenha certeza que buscar as respostas dentro do seu coração, já é um grande passo para viver melhor individualmente e consequentemente ao lado de quem você escolher para viver.
10- Sorria, seja grato pela força que está dentro de você. Ela pode está debaixo de alguns entulhos, mas ela está ai, pulsando e pronta para emergir.
Eu acredito no amor, na parceria, na cumplicidade, no andar de mãos dadas, no superar desafios, no caminhar lado a lado, na consideração, na superação e transformação à medida que se compartilha. Não há receitas prontas para o que pode ou não dá certo. Deixe seu coração lhe guiar. Acredite nele.
No próximo Post- PARTE II- Irei falar um pouco sobre o que fazer para facilitar a resolução dos problemas e vendavais quando eles aparecerem e quais os passos que podem facilitar esses processos para que não haja tanto desgaste.